terça-feira, 13 de maio de 2008

AÇÕES DESENCONTRADAS PARA UM MESMO PROBLEMA



Nestas condições, 120 anos depois, em nada mudou a condição do negro, nem as relações sociais da mulher. A mulher, (no rigorismo da outra vítima), é o que se pode chamar de vítima de si mesma; o negro, vítima da sociedade que ajudou a construir, como ninguém. Sim, a mulher, é responsável pela criação e formação moral e social do homem de amanhã; também da futura mulher - esta preparada para continuar a ser vítima; aquele para continuar opressor. É bom lembrarmos de que o negro chegou ao Parlamento, o cerne do Poder, muito antes da mulher, ainda no Império. A mulher só o alcança na segunda metade do Séc. XX. A mulher não “viu” o alcance da universalidade do voto; o negro nunca pôde exercitá-lo. Com este rescaldo o Brasil não andou no construir da Nação. O Estado Republicano nunca teve vida superior a 20 anos, por não propiciar uma única proposta com vistas a integração desta outra banda da nacionalidade, o negro.

Em toda a vida Republicana os esforços do Estado são para debitar a questão do negro nas necessidades sociais. Não há como extrair daquela a particularidade deixada pela escravidão. Enquanto ela não for totalmente sanada a mulher brasileira continuará se esquivando a esmo, sozinha; o negro brasileiro lutando contando com suas crenças e suas artes, só, ou quase; as dores da Nação - continuarão as mesmas - de entranhas:
“Como Deus foi servido que eu mandasse matar meu filho”, peça de defesa aos padres coadjutores, de um nobre, (dentre os pais da prostituição infantil), “traído” pela manteúda e o filho mais moço, “lavagem de honra” levada a cabo pelo filho mais velho (1).
“Senhores..... Meu filho! é mais, é meu filho”. Tragédia no Lar, Castro Alves

A primeira mãe, matilha preta cobrindo a cabeça, obrigada a solidarizar-se com o marido, diante do corpo do filho “ingrato”. A segunda, escrava - “nem mais um passo cobardes!.... uma doida a gargalhar”, ao ter o filho arrancado dos braços para venda.

“Ninguém luta só, ninguém dança só” relembra o Ministro Gilberto Gil, apresentando na Europa a Capoeira - das manifestações mais vigorosas de resistência do negro brasileiro. - “Criada para o prazer e o combate”, ensina o Ministro.(2) Enquanto isto - Nas areias de Copacabana, outrora um alfinim, mulheres também outrora fidalgas rememoram, velam, choram seus filhos – “plantando um mar de rosas vermelhas...”
“Uma bala perdida os achou...” – “estava na hora certa, no lugar errado”, justifica o mesmo sistema. Tanto faz, a Ministra Presidenta do STF, dá de ombros, solidária com os “senhores” do Séc. XXI, no “direito e no dever de matar bandidos” pregamos, a Nação.

Extinta, ou esvaída a escravidão ficou a dívida: sim, porque a História não tem fim, é um processo. E esta dívida terá de ser paga. E esta paga será o menor dos preços e o menor dos custos. A mulher brasileira é o melhor e mais apropriado segmento para desfraldar a bandeira da Indenização do Negro Brasileiro. Aquela mulher – que sem meios, com um aliado escravizado – amargou as suas dores morais e de entranhas; (essa mulher) – hoje, com um aliado capaz de esboçar reações – não pode esconder-se, insular a si e ou aos seus, ao invés de procurar uma solução pactuada.
Assim, o 13 de Maio toma o seu lugar na História: Apenas um ato burocrático.

E, é isto aí senhoras do Brasil; e, é isto ai meninas brasileiras, - à dança, à luta:

-“Capoeira é pra homem menino e mulher”.

* Da. Vitória Gama: mulher negra, garimpeira, Professora, rezadeira, cantadeira - da região do antigo Gentil D’Ouro, vale médio do São Francisco, na Bahia.
(1) Tristão de Alencar Araripe, “Pater-Famílias no Brasil dos tempos coloniais”
(2) Discurso de Gil em Genebra, Suíça, numa Roda - 19-08-2004


André Pêssego –
andrepessego@ibest.com.br

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