sexta-feira, 26 de junho de 2009

ENTENDA O PORQUE DO RACISMO NA ARGENTINA

WELL PEGANDO CARONA NO FATO OCORRIDO NA PARTIDA CRUZEIRO X GRÊMIO PELA LIBERTADORES QUARTA PASSADA, EM QUE O INDIVÍDUO - PQ JOGADOR Ñ SEI QUEM DISSE QUE ELE É, E PAGA R$ 120.000,00 PRA PERDER GOLS FEITOS - MAX "RUIM" LOPEZ E QUER MASSAGEM, CHAMOU O ZAGUEIRO DO CRUZEIRO DE MACACO, ALIÁS DIGA-SE DE PASSAGEM NA CARONA DA TORCIDA, CONSIDEROU O OCORRIDO COMO NORMAL, POR QUE?

"Na próxima terça-feira (26) inicia mais uma Copa América de Futebol. E a Seleção Brasileira, treinada por Dunga, estréia na quarta (27) contra o México, na cidade venezuelana de Puerto La Cruz.

Mas peguei o assunto do futebol só como gancho. É que uma coisa sempre vinha me deixando intrigado: nunca vi um negro atuando em qualquer seleção esportiva argentina, seja em Copa do Mundo, Jogos Pan-Americanos ou Olimpíadas. O que aconteceu com os negros do vizinho portenho?

Houve escravidão em toda América Latina. A importação de negros chegou até esta parte do Hemisfério Sul. Basta ver atletas e artistas brasileiros, uruguaios, colombianos, equatorianos, venezuelanos, peruanos, etc. E na Argentina, o que houve? Meu irmão Gilson esteve na Argentina há cerca de 10 anos. Viajou com colegas da faculdade na época em que ele cursava Geografia na Ufrgs para um encontro universitário em Buenos Aires. E ele, que tem a pele levemente mais escura do que a minha, disse que os estudantes argentinos puxavam papo com ele em francês, pensando que ele tivesse nascido no Senegal, Camarões ou Costa do Marfim (países africanos que foram colônias francesas). E ele chamava a atenção por ser negro. Era o chocolate no meio do creme de baunilha. Foi por essas curiosidades que eu resolvi dar uma pesquisadinha no assunto.

Na Argentina não tem negros porque foram todos mortos há pouco mais de um século. Jorge Lanata é um dos mais importantes jornalistas argentinos, fundador do diário “Página/12” e autor de Argentinos (em espanhol, Editora Argentina), uma belíssima história de seu país em dois volumes, lançada em 2002. Nos livros, ele batiza os negros de los primeiros desaparecidos, referência aos mortos pela ditadura militar recente. E traz números: no censo de 1778, 30% da população tinha origem africana. A proporção se mantém no censo de 1810, cai para 25% em 1838. Em 1887, repentinamente, compõe menos de 2%. Mas no início, bem no início, há depoimentos de que a proporção de negros e brancos em Buenos Aires chegou a ser de 5 para 1.

Durante seu primeiro século de vida, a capital argentina sobreviveu às custas do comércio negreiro. No século 16 até a primeira metade do 17, a coroa espanhola drenava o ouro e a prata do Potosí, na atual Bolívia. Foi este o negócio que batizou o Rio da Prata – e foram principalmente mãos negras que tiraram das minas subterrâneas os metais que sustentaram a Europa. Os escravos que trabalharam no Potosí vinham principalmente de Angola. Eram negociados pelos peruleiros, que faziam a rota Potosí-Buenos Aires-Rio-Luanda. O Rio de Janeiro também sobreviveu economicamente por conta do tráfico, numa época em que o açúcar do Nordeste era de qualidade muito maior. No Rio chegavam os escravos, pagos em boa parte não com dinheiro mas com açúcar, cachaça, mandioca e tabaco, que serviam de moeda de troca na África. Os escravos eram transportados então para Buenos Aires, onde entravam ilegalmente, e enviados Prata acima até as minas. Era um jogo onde todos, inclusive os governadores, eram contrabandistas. A relação na rota de tráfico entre Rio e Buenos Aires era tão íntima que, quando veio a separação da União Ibérica, os cariocas chegaram a sugerir aos hermanos que se bandeassem para o lado português.

Como no Brasil, todo o serviço, doméstico ou não, nos séculos 17 e 18 foi feito por mão-de-obra negra e escrava na Argentina. Então desapareceram e a história local ensinada nas escolas se cala sobre o assunto. Francisco Morrone, autor de Los negros en el ejército: declinación demográfica e disolución, é um dos historiadores que tenta recuperar o que houve. Segundo Morrone, uma das coisas que aconteceu foram casamentos mistos que, lentamente, clarearam a pele de filhos e netos. É o tipo da resposta que explica quase nada. Mas aí ele mete o dedo na ferida.

A abolição da escravatura na Argentina começou em 1813, foi confirmada pela Constituição de 1853 – bem antes à brasileira. Durante o século 19 todo, o país se meteu numa guerra após a outra. Contra invasões por parte de Inglaterra e França, então a Guerra da Independência seguida do banho de sangue da luta interna entre caudilhos pelo poder e culminando com a Guerra do Paraguai, na qual seguimos aliados. Por todo este período belicista, a Argentina pôs seus negros na linha de frente dos exércitos, os primeiros a levar tiros, às vezes de espingardas – muitas vezes servindo de isca para que o inimigo gastasse as balas de canhão.O golpe final foi a grande epidemia de Febre Amarela em 1871, que se abateu sobre os bairros de Buenos Aires para onde os negros que sobraram foram transferidos. Depois, nos primeiros anos do século 20, assim como no Brasil, houve uma enorme migração européia, principalmente de italianos, que marcaram o sotaque portenho como marcaram cá o paulistano. A diferença é que, a essas alturas, os poucos mulatos não tiveram melanina suficiente para escurecer a pele da população restante.

A Argentina teve, sim, escravos, exatamente como o Brasil e na mesma proporção. Nos momentos seguintes à sua independência, aboliu a escravidão para pôr em marcha uma política de branqueamento da população. No caso, isso quer dizer genocídio. Diga-se de passagem, nos primeiros anos da República isto foi motivo de inveja por parte do governo brasileiro. Não há inocentes."

* BY BLOG DU BRIZA (COM TODO RESPEITO!)

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