quinta-feira, 18 de setembro de 2008

PETER TOSH & ROLLING STONES - LIGAÇÕES PERIGOSAS




Em 19 de outubro Peter Tosh faria 52 anos se estivesse vivo. Para comemorar o Massive Reggae obteve a permissão da revista Distant Drums para reproduzir um artigo publicado em sua sétima edição, sobre um dos episódios mais citados e menos esclarecidos da história do da música pop: a associação entre o homem perigoso do reggae e a aclamada banda de rock inglesa. A revista Distant Drums fez uma grande pesquisa em jornais da época e em entrevistas de Peter Tosh, algumas nunca publicadas (conseguidas através da Internet) e conseguiu lançar luz sobre esta inusitada parceria.

Em 78 Peter Tosh se tornou o primeiro artista a assinar com o selo dos Rolling Stones. Como ele explicou, "Na América, eu trabalhava para a Columbia Records . Meu contrato acabou e eu não tinha intenção de renovar com eles devido a sua inexperiência em promover o reggae. Aí eu estava pensando quem seria o próximo na minha agenda e Jah os enviou para mim. Eles estavam interessados na minha música e eu os investiguei e vi que poderia ser uma coisa boa". Revelando como eles foram enviados por Jah, ele continua, "Minha telepatia conectou-me com Keith. Ele ligou, veio para a Jamaica e estava interessado. Veja, quando você põe sua fé em Jah, qualquer coisa pode acontecer". Isso mostra que Peter estava tranqüilo com a perspectiva de trabalhar com um selo dirigido por músicos camaradas, mesmo se eles viessem de uma cultura totalmente diferente. "Os Rolling Stones são completamente diferentes. Eles são músicos, tocam por tanto tempo quanto eu e tem passado por muitos dos mesmos problemas, especialmente a perseguição policial. Eu sei que eles têm sentimentos na sua música".

O primeiro álbum que saiu da combinação foi Bush Doctor, em 78, com a produção executiva creditada à Jagger e Richards sob o nome de The Glimmer Twins. Mick Jagger aparecia nos vocais de (You Gotta Walk) Don't Look Back, clássico soul do grupo americano The Temptations, e Keith Richards tocou guitarra solo em Bush Doctor e Stand Firm, porque, como Peter explicou, "Eu não estava preparado para tocar rápido. No álbum eu fiz o ritmo e Keith o solo, com outros dois guitarristas (Mickey Chung e Donald Kinsey)". Peter e Keith ficaram chegados, com o primeiro reconhecendo o amor do segundo pelo reggae. "Este cara tem escutado reggae desde 62. Ele tem algumas fitas e discos que eu nunca havia ouvido. Eu disse a ele, 'Cara, você é perigoso'. É bom encontrar alguém que realmente ama e respeita a música". Bush Doctor recebeu variadas críticas, muitas delas dizendo que a música de Peter foi suavizada pelos Stones numa tentativa de aumentar sua popularidade. Isto foi desmentido por Peter, que disse que "Eu apenas fiz o álbum com uma audiência em mente, seja branca, preta, rosa ou verde". A associação com os Rolling Stones renderia mais dois álbuns, Mystic Man, de 79, e Wanted: Dread or Alive, de 80.





Peter Tosh e Mick Jagger cantam juntos em um programa de TV

No verão de 78 Peter foi convidado a abrir alguns shows dos Rolling Stones. Ele lembrou como tudo aconteceu: "Eu disse, 'Vamos lá, caras, vamos fazer alguma coisa que venha do coração'. Quando um homem faz assim, e o próximo também, eles se entendem, independente de cultura. Os Stones me deram a oportunidade de encontrar mais pessoas, pelo quê eu sou grato". Seu reggae explosivo foi saudado com diversas reações dos fãs dos Stones, que ele aceitou com uma razão filosófica. "Cara, havia pessoas que nunca haviam escutado reggae. Pessoas que te atirariam fora do palco se você não tocasse algo que eles aceitassem. Então era melhor ter o que tocar ou se defender. Eu toquei para 100.000 pessoas e pelo menos 90.000 poderiam me agredir. Mas quando eu pus na música o poder da hipnose e vi que estava todo mundo hipnotizado, eu os deixei ali por horas, pensando. Não foi nem 100% da minha capacidade, nem mesmo 50% , porque, primeiro, não teve passagem de som, segundo, nenhum técnico. E era um show profissional em Filadélfia. O técnico só entendia de rock'n'roll, não sabia nada de reggae. A primeira vez que ele ouviu reggae foi no palco, quando eu toquei. E era um cara que não aceitava ordens de ninguém. Ninguém podia lhe dizer nada, era um cara com problemas de ego". Continuando a falar do poder do reggae, Peter declarou: "Ouça o que estou dizendo. Reggae music tem o poder de te hipnotizar e te manter em suspense. Quando eu toco, faço com a intenção de penetrar na medula do ouvinte, então a música te percorre, pela sua espinha e seus pés fazem assim (ele mostra batendo-os no ritmo do reggae). Para imprimir a coisa dentro de você, que faz você dizer 'Uau, esta música é beleza, muito boa'. E você não estará dizendo uma mentira para si próprio!".

Peter estava determinado à levar sua mensagem para uma nova audiência. "A primeira coisa é que te dá coragem, fortalece seus joelhos. Porque você tem que tocar na frente de milhares de pessoas. Tem que ter joelhos fortes para se agüentar". Peter também estava ciente dos elementos positivos que geraram a turnê: "Muitas bençãos, cara, incontáveis bençãos. Mesmo se eles viessem para ver outra coisa, eles aceitaram minha música, daí tudo foi positivo. Algumas vezes eu toquei para uma platéia que veio ver os Stones, mas depois que eu toquei, eles entraram no ritmo do reggae, e não queriam ver os Stones outra vez". Refletindo sobre um acontecimento em particular, Peter disse, com um sorriso: "Quando deixamos a Carolina do Sul, um jovem branco disse para mim, 'Cara, sua música é da pesada'. Eu disse a ele, 'Você gosta?' e ele, 'Claro, cara. Se os Stones não viessem, eu pensaria que você era os Stones!".

(c) Distant Drums

Dos três álbuns gravados para o selo Rolling Stone, foi o último deles, Wanted: Dread or alive, que teve o melhor retorno, sendo o primeiro disco de Peter a figurar no Top 100 da revista Billboard, chegando à 91º posição. A música Nothing but Love atingiu a 43º posição da parada de soul da mesma revista. O documentário "Stepping Razor" mostra Peter Tosh e Mick Jagger cantando juntos no programa 'Saturday Night Live' e os dois pareciam bons amigos. Mas as coisas não andavam tão bem e esse álbum também marcou o começo dos problemas entre Tosh e os Stones, que terminariam com o fim da associação.

Peter ficou decepcionado com o pequeno impacto comercial de sua música fora da Jamaica e passou a culpar os Stones, em ataques pela imprensa, acusando-os de prejudicar sua carreira. Keith Richards deixou passar esses ataques, creditando tudo à uma questão de frustração profissional. Mas o caldo entornou mesmo quando o stone pediu de volta sua casa da Jamaica, que ele havia emprestado para Peter tempos antes. Ao chegar na ilha para passar férias, Keith descobriu que Peter havia ignorado todos os avisos e se recusava a deixar a residência. O caso quase acabou em tiro, e marcou o fim da relação, pessoal e profissional, entre dois gigantes da música pop. (LV)

Nota: Este artigo saiu no final de 96, portanto Peter Tosh faria 55 anos em 19 de outubro deste ano.

SIM...DOWN

Um comentário:

  1. Peter Tosh era um militante negro bem aguerrido! E, como muitas das principais figuras do reggae, teve uma vida desgraçada. Sua vida terminou quando, a 11 de Setembro (data curiosa) de 1987, um conhecido dele entrou em sua casa e o matou junto com outros amigos. É interessante essa matéria que você postou sobre as "ligações perigosas" entre Tosh e o Rolling Stones. Conheça mais de sua história nesse link
    http://cotonete.clix.pt/quiosque/especiais/reggae/index.asp

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