terça-feira, 1 de novembro de 2011

CIDADE BAIXA DO CARNAVAL E SAMBA ROCK

CIDADE BAIXA DO CARNAVAL E SAMBA ROCK

por Alexandre Santos Castro*

Quem não visita porto alegre há muito tempo, com certeza hoje em dia irá se impressionar com o bairro Cidade Baixa. Neste bairro que antigamente habitou um quilombo, conhecido como Ilhota e futuramente o Areal da Baronesa, hoje se concentra o maior número de bares e casas noturnas por metro quadrado da cidade. Mas qual será o motivo de tamanha densidade de casas noturnas nessa região? Provavelmente por diversos motivos geográficos, como proximidade ao Centro, a Universidade, ao lago Guaíba, mas acredito também, que outros fatores são muito marcantes e determinantes para tal fenômeno. E que neste pedaço de terra originaram-se e desenvolveram-se as maiores manifestações culturais dos negros porto alegrenses, como o Carnaval de rua e o ritmo samba rock, com suingue inconfundível de Bedeu.

Segundo o livro "Fragmentos Históricos do Carnaval de Porto Alegre",[1] o Carnaval (do povão) de Porto Alegre é o carnaval que surgiu nos bairros pobres como o Areal da Baronesa e Colônia Africana. O primeiro assim chamado por ser na beira do rio (uma praia, posteriormente aterrada e onde hoje é a Praça Cônego Marcelino) e que tem esse nome por antigamente pertencer a Baronesa (esposa do Barão de Gravataí), e o segundo pelo numero de negros que ali fixou residência. Foram o local onde os escravos libertos passaram a morar após a abolição da escravatura.

O Areal era um reduto totalmente carnavalesco, a partir dos anos 1930 já existem noticias em jornais de grupos com nomes de Ases do Samba, Nós os Comandos, Seresteiros do Luar, Nós os Democratas, Viemos de Madureira, Tô com a vela, Os Caetés e mais recentemente, os Imperadores do Samba, todos tiveram origem no Areal. Foi onde surgiu o Rei Negro (Seu Lelé), primeiro Rei Momo Negro da cidade, e os primeiros coretos populares de bairro.

Em 1946, mais precisamente em 4 de dezembro nascia, no Areal da Baronesa, Jorge Moacir da silva, o Bedeu. Vivendo num bairro pobre e reduto da vertente africana em Porto Alegre, teve sua formação musical influenciada diretamente pelos negros carnavalescos habitantes do bairro. Iniciou sua carreira musical em São Paulo mas foi retornando a porto Alegre em 1975 que fundou o grupo Pau Brasil. Grama verde, Massagem e pau Brasil são alguns dos sucessos do conjunto, que até hoje são regravados por diversos artistas do cenário nacional.

Com um ritmo original e diferente ao resto do país, o samba rock de Bedeu, recebe o nome em nossa cidade de suingue, delegando ao músico o título de “Rei do Suingue”. Em 1999 faleceu Bedeu, mas seu suingue e suas músicas continuam embalando as pistas de dança de nossa cidade.

Estes dois exemplos de movimentos culturais, também contribuem para que o bairro Cidade Baixa apresente em sua essência essa característica boemia, sendo palco das maiores manifestações artísticas brasileiras dos negros do sul do Brasil. Com certeza almas carnavalescas e com muito suingue, perambulam por entre bares e casas noturnas da região, dançando e cantando nossas raízes.

Referência

[1] Garcia, Heitor Carlos Sá Britto. Fragmentos Históricos do Carnaval de Porto Alegre. Edição X. Local de publicação: Editora, ano de publicação 2006. ISBN

* Alexandre Santos Castro, bacharel em Ciências Econômicas pela UFRGS e Músico e compositor filiado a OMB.

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