quarta-feira, 2 de março de 2011

LARICA?

Larica é uma palavra de uso antigo na língua portuguesa e familiarmente designa a fome; encontra-se registrada com esta acepção nos dicionários de Cândido de Figueiredo (1913) e em verbete original de Caldas Aulete (1881-1987). Modernamente, Larica também é usada para designar fome aguda que atinge quem se encontra sob o efeito da maconha. É usada apenas em alguns estratos sociais, sobretudo por jovens, quando se referem a uma fome ligeira, por exemplo, quando desejam uma sanduíche para o lanche, ou uma refeição substancialmente inferior ao almoço ou jantar ou cafe da manha.

Renato Malcher-Lopes, um pesquisador brasileiro do Instituto Cérebro Mente de Lausanne, na Suíça, apesar de evitar a expressão "larica", estuda o papel no controle do apetite de substâncias semelhantes ao THC da maconha mas que são produzidas pelo próprio cérebro. O que acabou por esclarecer que a larica causada pela maconha é semelhante a fome causada pelos canabinóides endógenos (do próprio cérebro) que são produzidos quando o animal está em jejum. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo em junho de 2006, ele diz: "Nós mostramos que o endocanabinóide da área do cérebro que controla o apetite é regulado por dois hormônios muito relevantes para a fisiologia dos animais: os glucocorticóides e a leptina". O pesquisador mostrou ainda que enquanto os hormônios estimuladores de apetite produzidos pela glândula adrenal, os glicocorticóides, fazem aumentar a concentração de canabinóides endógenos na região do cérebro que controla o apetite, a leptina, um hormônio que inibe o apetite, a faz cair. Ou seja, a grande fome que sentimos após muitas horas em jejum é produzida pela ativação dos mesmos mecanismos ativados artificialmente pela maconha.

Em um estudo publicado no periódico científico "The Journal of Neuroscience", Renato mostra passo a passo quais são as enzimas envolvidas nesse processo. "A indústria farmacêutica pode agora olhar para cada uma delas e tentar buscar alterar suas atividades específicas", diz ele. Contudo, ressalta que "o endocanabinóide também inibe o dispositivo que o cérebro tem para levar o animal a parar de comer".

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